COLUNA - Pausar o financiamento imobiliário: compensa ou não?
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, as instituições financeiras têm buscado alternativas para minimizar os impactos financeiros na vida dos brasileiros.
Sem dúvida nenhuma, o financiamento imobiliário que possibilitou a realização do sonho da casa própria ou viabilizou um bom investimento, pode se tornar um grande problema, caso o mutuário tenha perda de renda ou até mesmo do emprego.
A alternativa disponível e mais utilizada até então tem sido a pausa no pagamento das parcelas do financiamento, mas o que é uma pausa?
Pausa, como nossos dicionários trazem, é “suspensão temporária de ação ou movimento”. No caso de financiamento é a suspensão temporária do pagamento das parcelas, que em muitas instituições pode chegar a 4 meses.
Não se trata de isenção de pagamento, dispensa de recebimento ou mesmo perdão de dívidas. É preciso deixar claro que ninguém está dando nada para ninguém: suspende-se o pagamento pelo período definido e o valor dessas parcelas pausadas deve ser pago no decorrer do contrato ou adicionado ao prazo no final.
Os impactos no contrato de financiamento são:
Cobrança de Juros
A pausa incorpora as prestações ao saldo devedor e sobre esse saldo são cobrados os juros. O valor das prestações pausadas será pago no decorrer do restante do contrato;
O prazo de amortização e o prêmio de seguro
O prazo de amortização somente é alongado se o contrato não estiver no prazo máximo do produto. O seguro é recalculado tendo por base o novo saldo devedor;
Sendo assim, é evidente que a pausa tem um custo, pois ao diluir no prazo restante do contrato o saldo acumulado das parcelas pausadas, haverá um acréscimo na dívida, sendo que por vezes o valor das parcelas pausadas pode até dobrar até o final do contrato.
Vou dar dois exemplos de como se comporta o financiamento quando ocorre a pausa: imagine um financiamento com saldo devedor de R$ 400 mil. Suspender três parcelas equivale a pausar o pagamento de R$ 9.433,89. No final do financiamento (420 meses), o valor pago pelo mutuário será aproximadamente R$ 17.915,00. Ou seja, quase o dobro do valor das parcelas pausadas.
Outro exemplo é um financiamento do Minha Casa Minha Vida, já com cinco anos de pagamento e com saldo devedor de R$ 80 mil. A suspensão de três parcelas somariam R$ 1.583,00, no final do financiamento de 300 meses. O valor atualizado seria em torno de R$ 2.390,00, ou seja mais de 50% de incremento no valor das parcelas pausadas.
Como estamos falando de correção de valores de parcelas suspensas, quanto menor o prazo para quitar o financiamento, menor será o incremento de valor. Outra alternativa, que diminui o impacto dos juros é solicitar pausa parcial. Algumas instituições já oferecem essa modalidade em que o valor mínimo para pagamento é o valor do seguro e custos operacionais.
Também é permitido que o cliente pague, a partir daí qualquer valor, definido no ato da negociação e mantido durante toda a vigência do pagamento parcial.
Independente da modalidade ou do prazo de pausa solicitado, o importante é entender que se trata de uma alternativa que viabiliza a manutenção da adimplência do financiamento, sendo por vezes a única forma de ajustar o orçamento.
É preciso ter clareza em analisar que independente dos juros futuros, muitas famílias perderam emprego e renda e podem ter outras dívidas com juros muito superiores aos do financiamento habitacional. Tendo essa clareza, entenderemos sempre como sendo viável pausar as parcelas do financiamento habitacional e com os recursos honrar outros pagamentos.
Com a possibilidade de pausa parcial das prestações, a recomendação é pausar apenas o valor estritamente necessário para se ganhar fôlego financeiro neste momento.
Então a resposta para a pergunta “se compensa, ou não” dependerá da realidade de cada um: quem não teve impacto nenhum na renda e pode continuar pagando as parcelas, que continue. Não pense que o dinheiro que sobrará na conta devido a pausa é gratuito, ele tem um custo.
Já a grande maioria que está sendo impactada pela pandemia, deve analisar a possibilidade de pausa, visto que mesmo com o acréscimo de juros são com certeza os menores para quem tem dívida.
* Marcos Willens Araújo é formado em ciências contábeis, graduando em ciências políticas, pós-graduado em marketing e finanças, certificado pela ANBIMA CPA20 e pela ABECIP CA600. Atua como bancário.
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